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ELA TEIMOU E ENFRENTOU O MUNDO SE RODOPIANDO AO SOM DOS BANDOLINS... ELA SE JULGAVA AMADA AO SOM DOS BANDOLINS...

10.4.11


Ela ficou por horas olhando o mar enquanto o reflexo da lua misturado com a maré de seus sentimentos ilustrava o que ainda estava por vir.
Até que o silêncio foi quebrado, e num sussuro mais respirado do que falado, as palavras foram sentidas ao ouvido:

Coloquei meus olhos sobre seu vestido de cigana enquanto você dança e lança seu corpo ao dia tal como um pássaro que abre suas asas pra voar, e então eu sinto o inferno se abrir sobre os meus pés.
Apesar de seus grandes olhos que enfeitiçam, e principalmente por causa deles, foi o Diabo que se encarnou de ti, colocou em meu ser esse desejo carnal, para me tragar do presente e em meio à tempestade me banhar de passado, enxaguando minhas lembranças, e afogar-me num futuro, inodoro como a água?

Ela continuava olhando fixamente para o mar.
Viver o presente é como uma força imutável ir de encontro à algo que não pode ser movido. É impossível. Mesmo que não pense no futuro, ele será construído pelas escolhas que toma agora. Suas palavras foram inventadas para mim, mas é a impaciência do mar que me instiga.

Então o que antes era sussurro começa a ser elevado: Laisse-moi rien qu'une fois Glisser mes doigts dans les cheveux de vous! Deixe-me tocar mais uma vez em seus cabelos.

Esse foi o único momento em que os olhos se encontraram, e o que pareceu ser uma eternidade no segundo que antecede o beijo, foi surpreendido pela ausência desse mesmo beijo, e no lugar, vieram suas últimas palavras.

Parece que quer me fazer carregar a cruz do gênero humano. Não sou nada disso, fui uma donzela a te esperar, e hoje sou areia que faz parte do mar.

Silêncio.

Ela deitou-se na areia, misturando-se a ela. Riu, riu até sua barriga começar a doer, gargalhou, e chorou.